A infância nos tempos mais primórdios de Vila São Pedro
foi mais do que legal. Minha família foi uma das ultimas a mudar efetivamente
para o tal bairro, mas eu frequento aqui desde meus cinco aninhos, quando a
Vila não passava de nada e era um bairro sem nome.
Quando algumas famílias já tinha se instalado por
aqui, a pivetaiada veio junto. Quando a família do Rodrigo Portuga mudou para a
vila (há algum tempo...), ele viu aquele monte de moleque parado, sem fazer nada,
e então perguntou: “Vocês não jogam futebol?” A resposta foi: “Não jogamos, e não
temos bola!” Foi aí que ele apresentou a arte do futebol para a Vila São Pedro,
com uma bola que veio junto no caminhão da mudança, virando o Charles Miller do
bairro.
A vila era tão perigosa antes, que quem estudava no
período da manhã geralmente tinha que pular um cadáver para ir à escola, sem
exagero nenhum da minha parte. Algumas vezes, estávamos brincando de polícia e
ladrão, quando ouvíamos barulhos de tiros de verdade. Um perguntava para o
outro: “sua arma está carregada? Não? Então corre que é tiroteio!”.
Mesmo com os perigos de antes, era mais fácil dos pais
criarem os seus filhos. Apesar de ser meio no estilo velho-oeste, as
brincadeiras eram mais saudáveis, não havia muito movimento nas ruas e os pais
sabiam com quem os filhos andavam. Obviamente que existiam as drogas, mas não
eram banalizadas iguais são hoje, onde os usuários acham bonito que saibam que
ele é o bam-bam-bam e que usa uma droguinha, e ainda soltam a fumaça da “erva”
na nossa cara. Para mim, não passam de uns retardados.
Mas a vida segue e cada um toma seu rumo, todos cresceram,
alguns se reproduziram, outros não conheceram ainda o “método de reprodução”,
outros partiram desta para a melhor, vários se casaram, alguns de uma geração
depois da nossa já estão contaminados, falando só de carro, moto, Nextel, funk,
roupa e tênis de marca e essas outras porcarias futilidades, esquecendo
que as melhores coisas da vida o dinheiro não paga.
Já que citei novas gerações, os garotos de hoje em dia,
pelo que vejo, jamais descerão a rua de carrinho de rolimã. Nos tempos mais
primórdios, por as ruas serem de barro, os carrinhos eram feitos com rodas de
triciclos e se transformavam em verdadeiros Off-Road. O tempo passa e as coisas
mudam, a única coisa que não muda é que minha rua continua sendo de barro. Acho
que ninguém a pavimenta porque virou patrimônio histórico, por tudo que vivemos
aqui.
Acabaram-se muitas tradições que eram divididas por
épocas no ano, como peão e as bolinhas de gude, por exemplo. Se eu for contar
todas as histórias que presenciei ou vivenciei, com certeza dava para escrever
uma série com uns 250 livros. Alguns exemplos clássicos são: Um garoto que furava
o colchão para jogar bolinha de gude, e a vó dele pensava que era ratos que estavam
roendo os colchões.
Hoje vejo esses moleques entojados só falando de videogame,
o dia todo na internet. Se quiserem falar um com o outro, mandam SMS ou entram
no MSN, mesmo morando na casa do lado. Acho que a pivetaiada que hoje em dia
prefere soltar pipa dentro de casa, no ventilador, do que ter a emoção de subir
na laje como nos velhos tempos. Eu não soltava pipa não, mas gostava de correr
atrás do famoso “mandadão”, pois eu era (e continuo) sendo o mais alto da
turma, então tinha vantagem! Pegava a pipa e vendia pra alguém, ou simplesmente
trocava por um doce ou uma tubaína. Se você é muito novo, caro leitor, vou explicar:
Tubaína é um refrigerante envasado em uma garrafa igual a de cerveja, que é
a bebida mais saborosa do mundo e era a sensação entre a rapaziada,
geralmente bebida direta na garrafa e custava por volta de R$0,35.
Vou parar por aqui para não me alongar mais ainda. Empolguei-me
escrevendo, até peço leitura para quem teve a paciência de ler até aqui, mas foi
apenas um breve, mas bem breve resumo. Tempo bom que não volta! Até entrou um cisco
no meu olho quando estava à escrever, porque homem não chora...
3 comentários:
Eu simplesmente adorei sua publicação, cresci e moro na vila São Pedro tbm, e apesar de ser nova sou parte da geração que brincava de esconde-esconde na rua até tarde da noite com a melecada toda, todo mundo era amigo e quase nunca havia desentendimento entre a gente ! Fico triste ao ver crianças de hj aqui crescendo com estas ''tecnologias'', não tem como confiar em deixa-los brincar até tarde da noite.
Parabéns pelo blog.
Ameeei...esqueceu do vôlei na primeiro de maio...na ladeira...rsrs..lembranças maravilhosas que quem não viveu não sabe o quanto são importantes...adoro vcs meninos...apesar do pouco contato. ..bjs
Ameeei...esqueceu do vôlei na primeiro de maio...na ladeira...rsrs..lembranças maravilhosas que quem não viveu não sabe o quanto são importantes...adoro vcs meninos...apesar do pouco contato. ..bjs
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